IFMS/CAMPO GRANDE - 2013


Reflexões sobre a Liberdade

26/04/2013 19:33

A Olimpíada de Filosofia organizada pelo Prof. Edi Carlos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul (IFMS), aberta a participação dos estudantes do ensino médio (redes pública e particular) por meio da inscrição de trabalhos próprios (1º maio à 20 de  junho de 2013 - período de inscrição e envio dos trabalhos), homenageia o centenário de nascimento do filósofo franco-argelino Albert Camus (1913-1960) e, por isso, tem como temática central a "Filosofia Existencialista".

Mas o que é a Filosofia Existencialista? 

A Filosofia Existencialista, em suma, pode ser descrita como um conjunto de reflexões de homens e de mulheres, sobretudo do século XX, a respeito da Liberdade como caracteristica fundamental da condição Humana. Entre esses homens e mulheres destaco alguns como: Albert Camus, Jean Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Martin Heidegger, Gabriel Marcel, Karl Jaspers, Maurice Merleau Ponti, Hannah Arendt, Mary Warnock, Raimundo Farias Brito, Gerd Bornheim. Os quais sofreram influências decisivas de pensadores, como: Soren Kierkegaard, Fiódor Dostoiéski, Edmund Husserl, Friedrich Nietzsche e Franz Kakfa; que, entre a segunda metade do século XIX e inicio do século XX, denunciavam a inexistência de uma determinação metafísica-racional capaz de assegurar um sentido universal e necessária para a vida humana.

Segundo os existencialistas, de modo geral, a "existência precede a essência". Em outras palavras, quando um ser humano nasce o seu destino não vem escrito nem em totalidade e nem em rascunho, quem ele se tornará vai depender de suas escolhas - conscientes ou não - feitas a partir das opções disponíveis na realidade material na qual está inserido; porém suas escolhas alteram o cenário (realidade material - mundo) para si e para os outros, gerando a responsabilidade inclusive pelos efeitos colaterais destas escolhas. Assim, por exemplo, tomemos a vida de três destes filósof@s para entendermos a máxima existencialista.

Albert Camus, nasceu em 1913, no interior da Argélia numa família pobre de colonos de origem francesa. Seu pai morreu em 1914 em decorrência da 1ª Guerra Mundial. O que obrigou a família Camus (sua mãe, o irmão e ele) a irem morar na capital Argel com o tio e a avó materna do jovem Albert. Sua mãe, viúva e semi-alfabetizada, teve que ir trabalhar como doméstica para ajudar nas despesas familiares. Como a família Camus era muito pobre Lucien (o irmão) e Albert só poderiam estudar até a 4ª série do ensino fundamental, visto que, o ensino ginasial na Argélia, naquela época, era um privilégio para poucos. Acontece que o pequeno Albert Camus, por intermédio e incentivo de seu professor do ensino fundamental, recebeu uma bolsa de estudos parcial para cursar o ginasial. A escolha da família de Camus e do próprio pelo estudo (como ele narra no romance auto-biográfico: "O primeiro homem"), não foi isenta de sacrificios financeiros e emocionais. Cursar o ginasial possibilitou ao Jovem Camus avançar para o curso superior em Filosofia, anos depois, com o objetivo de tornar-se um professor deste campo do saber. Porém, a tuberculose o fez desistir da docência e procurar "emprego" no jornalismo, bem como, a se dedicar a literatura e ao teatro. Pouco antes da 2ª Guerra Mundial, Camus troca a vida em Argel (Argélia) por Paris (França), aonde conhece Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, entre outros. Tem a possibilidade de publicar seus livros e, alguns anos antes de sua morte prematura (1960) num acidente automobilístico, é agraciado com o Prêmio Nobel em Literatura pelo conjunto de sua obra.

Jean Paul-Sartre, nasceu em 1905, na capital Francesa numa família tipicamente burguesa e cristã. Assim como Camus, Sartre fica órfão de pai ainda bebê. Criados pelos avôs maternos e pela mãe, Sartre teve uma infância e adolescência confortável, sendo inclusive incentivado a seguir a carreira de escritor profissional. Nos anos de 1920, Sartre se forma em Filosofia numa importante instituição superior de Paris tendo como colegas de turma importantes pensadores do século XX (Raymond Aron, por exemplo). Neste tempo de formação superior, Sartre conhece Simone de Beauvoir e começa uma amizade que durará até a sua morte em 1980. Além de um pensador existencialista e professor de filosofia, Sartre também militou politicamente como membro do partido comunista franceses e se dizia um simpatizante de um marxismo não ortodoxo. Também foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura pelo conjunto da obra, mas, ao contrário de Camus, o recusou alegando ser um prêmio ideológico da direita burguesa.

Simone de Beauvoir, nasceu em 1908, na capital Francesa numa família tipicamente burguesa. Todavia, em 1909, a familia de Simone enfrentou sérias dificuldades financeiras que perdorou por toda a sua infância. Em decorrência destas dificuldades, o pai de Simone (Georges) decidiu investir na sua educação e na de sua irmã Hélène, acreditando que somente por este caminho as meninas Beauvoir poderiam ter uma vida econômica estável na idade adulta, visto que, ele não conseguiria "pagar" o dote necessário para que ambas conquistassem bons casamentos. A decisão do pai e as escolhas de Simone a fizeram ser uma das mais importantes filósofas do século XX. 

Estes três pensadores, como qualquer um de nós, tiveram condições materiais diversas ao longo de suas existências. Foram afetados pelas escolhas de outras pessoas (próximas e distantes), bem como, por suas próprias decisões (conscientes ou não). E fizeram suas vidas exemplos daquilo que defendiam filosoficamente, isto é, o existencialismo. Não culparam os outros, pelas pessoas que se tornaram. Entendiam eles que os únicos responsáveis pelos seus destinos eram eles mesmos, uma vez que, sempre foram "condenados à liberdade" (como dizia Sartre).

A existência segundo alguns existencialistas:

Sartre compreendeu que a existência humana era marcada pela "condenação" à liberdade. Para ele, o ser humano nasce desprovido de uma essência e/ou de um destino e num mundo cheio de opções (a principal era entre o fazer algo e o não fazer nada - "O ser e o nada"), tais condições cria neste ser a angústia do que escolher, visto que, toda escolha produzirá efeitos esperados e efeitos colaterais. E o ganho de consciência ou "a idade da razão", que segundo Sartre seria a capacidade de prever os efeitos possíveis das nossas escolhas, não afastaria  o sentimento da angústia (já abordado por Kierkegaard e por Dostoiéski). Por isso, em Sartre, o ser humano é visto sempre como um projeto de si mesmo (criador e criatura), que cria a si mesmo a partir das condições materiais de sua existência. Influências deste pensamento podemos ver nas músicas "O Reggae" (Legião Urbana) e "Essa tal liberdade" (Só Pra Contrariar) e no cinema com o filme "A Caixa" (Richard Kelly), em que os personagens enfrentam a angústia da escolha e suas consequências (liberdade em Sartre). Assim como podemos experimentar em nossa própria vida quando somos "obrigados" a escolher uma ou outra coisa que modificará a nossa história: seja o que estudar, no que trabalhar, com quem nos relacionar amorosamente e como reagir a uma situação desagradável.

Camus focou inicialmente seu pensamento filosófico na questão do sentido da vida. Para ele, a vida não possuia um sentido a priori e independente da vontade individual de cada ser humano. Influenciado pelos pensadores Nietzsche e Kafka (e também Blaise Pascal), Camus sustentava em suas obras que não havia uma lógica na existência humana que não fosse construída pelos próprios seres humanos como uma tentativa "fálida" de compreender um universo ininteligível e indiferente as carências humanas. Uma vez conquistada a consciência do absurdo, isto é, da ausência de sentido metafísico para a vida humana, para Camus, os seres humanos poderiam se libertar de uma vida mecânica (sem sentido) e realmente começar a viver dando um significado para a própria existência. E o maior significado, segundo o Camus, seria o amor pela vida (Aqui é preciso fazer um diferença entre o Amor Facti de Nietzsche: que pressupunha amor irrestrito por tudo no mundo - inclusive a irracionalide e a dor dos "inocentes"), isto é, pelas coisas que enriquecem a existência humana: a solidariedade, o respeito e o prazer das coisas simples (um dia de sol, um jogo de futebol, um romance). Embora sua obra tenha ficado inconclusa devido sua morte prematura (aos 47 anos), seu pensamento continua influenciando a cultura humana. Na música brasileira podemos citar "Muros & Grade" (Engenheiros do Hawaii) e "Pais e filhos" (Legião Urbana) e no cinema o filme "Beleza Americana" (Sam Mendes), em que a incerteza e o absurdo presente na existência humana nos fazem refletir acerca do que realmente pode se tornar importante em nossas vidas para que elas tenham um significado.

 

 

 

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